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quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Consumo em excesso de certos alimentos aumenta o risco de câncer

Cármen Guaresemin
Do UOL, em São Paulo
  • Pessoas que comem carne vermelha regularmente devem consumir menos de 500g por semana
    Pessoas que comem carne vermelha regularmente 
    devem consumir menos de 500g por semana
A ligação entre alimentação e o surgimento ou agravamento de doenças está cada dia mais evidente. E o oposto também: cada vez mais estudos provam que alguns alimentos podem melhorar a saúde.

No caso do câncer, não só o consumo em excesso e por longos períodos de alguns alimentos, como até mesmo o modo de prepará-los, pode colaborar para que a doença surja. Neste grupo entrariam gorduras e frituras, por exemplo.

Os apreciadores da carne bem passada e escura do churrasco correm riscos, pois este tipo de carne tem a presença de nitrosaminas, compostos químicos cancerígenos. Comer alimentos com excesso de sódio também pode provocar o aparecimento de câncer de estômago.

"Já sabemos que a alimentação tem forte relação com câncer de intestino, estômago, próstata e da mama", conta o cirurgião oncologista Samuel Aguiar Junior, diretor do Núcleo de Câncer Colorretal do A. C. Camargo, . Porém, ele admite que ao tentar modificar o fator dieta dos pacientes, não viu grandes impactos.
"A alimentação não age sozinha. Quando falamos em prevenção de doenças, é preciso pensar no comportamento geral, sendo que o sedentarismo é um fator importante. A doença surge quando não há um equilíbrio no metabolismo, o que causa obesidade, sobrepeso e diabetes, por exemplo", diz o oncologista.
O oncologista clínico Hezio Jadir Fernandes Jr., diretor do Instituto Paulista de Cancerologia (IPC), conta que entre 50% e 60% dos casos de câncer surgem por alteração ambiental: "Dentro dessas alterações estão os hábitos alimentares. Eles podem ser nefastos e há aqueles que podem ser chamados de protetores".
Ele inclui na classe de nefastos os alimentos gordurosos, aqueles com excesso de proteína, pobres em fibras vegetais e vitaminas. Os protetores seriam os ricos em vitaminas, fibras e antioxidantes. Mas o médico avisa: "Semear o pânico é pior que a doença em si. A pessoa não pode pensar 'vou comer isso e terei câncer'. Graças aos avanços tecnológicos, estamos conseguindo detectar subpopulações com risco de desenvolver a doença".

Carne vermelha

A nutricionista Renata Souza Alvim, do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo), conta que não é correto dizer que determinados alimentos fazem mal, pois todos são importantes para o funcionamento adequado do organismo e devem ser consumidos moderadamente.
Ela enfatiza que as carnes podem ser fontes valiosas de nutrientes, em particular proteínas, ferro, zinco e vitamina B12. Porém, também alerta que o consumo em excesso das vermelhas ou processadas é causa comprovada ou provável de alguns tipos de câncer: "Padrões alimentares com elevados níveis de gordura animal são fontes ricas de energia, aumentando o risco de ganho de peso e, em consequência, doenças. Pessoas que comem carne vermelha regularmente devem consumir menos de 500g por semana, incluindo pouca ou nenhuma quantidade da versão processada".

A nutricionista Thais Manfrinato, do Hospital A. C. Camargo, concorda: "O excesso de peso e a obesidade também são considerados fatores de risco para cânceres de mama, intestino, próstata e endométrio. Por isso, alimentos gordurosos, como frituras, leite e derivados na forma integral e molhos prontos devem ser evitados, pois facilitam o aumento do peso. Assim como doces, que levam à obesidade mais facilmente".

Porém, Manfrinato afirma que ao falarmos de alimentação e câncer, devemos tomar muito cuidado com as informações que são passadas, pois nem sempre o que se propaga por aí é algo que já foi comprovado cientificamente.

Agentes cancerígenos

Manfrinato conta que já está bem comprovado que o consumo excessivo de carne vermelha cozida por semana aumenta em 35% o risco de câncer de intestino grosso e o consumo excessivo de embutidos (presunto, linguiça, salsicha) aumenta o risco em cerca de 50% de desenvolver este mesmo tipo de câncer.

 "Os embutidos ainda aumentam risco de câncer de esôfago e estômago, por conterem nitrito como conservante. Também é bem elucidado que o consumo de fibras auxilia na prevenção de vários tipos de câncer e é bem relacionado com a prevenção do câncer de intestino e mama", afirma ela. Nitritos e nitratos, muitos utilizados como conservantes, são conhecidos como agentes cancerígenos.

Samuel Aguiar Júnior diz que as nitrosaminas são usadas como conservantes, especialmente da carne processada, e que mesmo sendo perigosas, não há como tirá-las da indústria alimentícia: "O certo é evitar o consumo em excesso".

As nutricionistas concordam que se deve manter não somente hábitos alimentares saudáveis, mas também um estilo de vida saudável, incluindo a prática de atividade física, a baixa ingestão de bebidas alcoólicas e a exclusão do fumo. "Quando falamos em prevenção do câncer, temos que lembrar que é uma somatória de diminuição da exposição aos fatores de risco, como os citados acima", diz Manfrinato.


Frutas & Verduras

Ela também afirma que uma alimentação rica em frutas, verduras, legumes, grãos integrais e pobre em açúcares, doces,  gorduras e carne vermelha previne vários tipos de câncer. Sobre os vegetais, Aguiar Júnior acrescenta: "Pode usar e abusar, apesar dos agrotóxicos".
Alvim dá algumas dicas práticas: "Lave as mãos e utensílios com água e sabão antes de iniciar o preparo dos alimentos, lave bem todas as frutas e verduras que for ingerir cruas, deixe-as de molho em solução clorada por 20 minutos (um litro de água com uma colher de sopa de água sanitária) ou utilize produtos industrializados para desinfecção (hipoclorito) sempre seguindo as instruções do rótulo. Por fim, aumente a ingestão de água, tomando pelo menos dois litros por dia, sempre filtrada".

Suplementos

Samuel Aguiar Júnior frisa que consumir fibras para contrabalançar o excesso de ingestão de carne vermelha não funciona. O mesmo vale para suplementos, e faz um alerta: "As pessoas não devem se apegar aos suplementos, pois estes não irão compensar uma má alimentação. Isso não acontece e sabemos bem".

Ele cita um estudo com pacientes da cidade de São Paulo com câncer de intestino feito pelo Hospital A. C. Camargo, onde atua, sobre o consumo de folato.  "Uma aluna minha de pós-graduação fez este trabalho. Estávamos procurando deficiências de ácido fólico e não encontramos. Pelo contrário. Muitos pacientes usavam ácido fólico sem indicação médica".

O oncologista diz que isso não pode ser considerado a causa da doença, mas que não é algo positivo para a saúde. "Podemos dizer que não há deficiência de ácido fólico na população da cidade de São Paulo. Porém, o correto é consumi-lo apenas com indicação médica".
Vinho e genética
Hezio Jadir Fernandes Jr. conta que estudos já demostraram que o vinho, por ser rico em flavonoides, protege contra algumas doenças coronárias. E agora, parece que seus efeitos benéficos também poderiam prevenir o câncer. "Isso graças a ação dos antioxidantes no organismo", explica o médico.
Já Samuel Aguiar Júnior lembra que o vinho tem dois lados. O bom, as uvas e o ácido tânico, e o ruim, que seria o álcool. "Seu maior consumo é citado nos países ao redor do Mediterrâneo e sempre associado à famosa dieta mediterrânea, que inclui uma ótima alimentação, sem esquecer das atividades físicas".  Assim, ele recomenda que a bebida seja apreciada com moderação.
Muito importante, na opinião de Fernandes Jr., é que pessoas com histórico familiar da doença, além dos cuidados alimentares, fiquem atentas aos possíveis sinais e façam os exames preventivos, sempre com acompanhamento médico.
Leia mais em: Bol Notícias

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Nutricionistas da Itália querem resgatar dieta mediterrânea

País ostenta fama de excelente cozinha, tanto em termos de sabor quanto de saúde. Mas estilo de vida moderno força italianos a abrir mão de suas tradições alimentares. E já são campeões europeus de obesidade infantil. Há anos a dieta mediterrânea é considerada um modelo de nutrição saudável. Ela é rica em azeite de oliva, leguminosas e verduras, frutas e nozes, fibras e carboidratos não refinados, além de uma quantidade moderada de peixe e vinho, poucos laticínios e um mínimo de carne vermelha ou de aves.

Além de reduzir o risco de moléstias cardíacas e obesidade, constatou-se que essa dieta reduz a glicose sanguínea e promove perda de peso entre diabéticos tipo 2. Um estudo recente realizado na Universidade de Navarra, na Espanha, demonstrou, ainda, que a alimentação mediterrânea aumenta a capacidade mental dos idosos e é melhor do que uma dieta de baixa gordura para os pacientes com risco de demência vascular.

Naturalmente, um dos países que mais se associa à dieta mediterrânea é a Itália, tão admirada e respeitada por sua reputação culinária. No entanto, a situação dos italianos modernos parece não ser nada melhor do que a de outras nações industriais, quando se trata de comer de forma saudável.

Alimentação mudou com a vida

A Itália era tradicionalmente o país da pausa de almoço de três horas. As mães cozinhavam, a cada dia, suntuosos banquetes - deliciosos, nutritivos e frescos -, que eram seguidos por longas sestas.


Isso é coisa do passado, afirma Giulio Marchesini, professor de Ciências da Alimentação da Universidade de Bolonha e diretor da Clínica de Doenças Metabólicas e Dietéticas do Hospital Sant'Orsola. "A alimentação mudou porque a vida mudou", diz, referindo-se às pressões da sociedade moderna.

Segundo ele, hoje em dia os italianos estão sempre com pressa e não têm mais tempo de ir para casa na hora do almoço. "Às vezes comemos de pé, também jogando ou estudando ou fazendo alguma coisa no computador." Além disso, os italianos consomem atualmente muito mais comida embalada e processada do que antes.

A Itália contemporânea sofre de uma epidemia de obesidade e de um avanço radical do diabetes tipo 2, diz o especialista em nutrição. "Estamos no topo da lista da obesidade infantil na Europa, e isso é um problema, pois uma criança obesa tem quase 100% de probabilidade de se tornar um adulto obeso."

É certo que a maioria dos italianos segue consumindo muito azeite, massas e vegetais, mas muitos não têm ideia do que compõe, exatamente, uma dieta mediterrânea saudável. Alimentos de preparo fácil, como presunto, salame e queijo, são agora ingeridos diariamente; sobretudo no norte do país, a dieta é abundante em carne de porco, vaca e gorduras animais.

Benefícios para a saúde


Na última década, uma série de estudos tem repetidamente enfatizado as vantagens da dieta mediterrânea na contenção de moléstias que vão desde o mal de Alzheimer e Parkinson, a doença cardíaca coronária e o infarto até o câncer.

Em 2013, a fundação inglesa Western Sussex Hospitals comparou os resultados de 20 estudos, a fim de investigar o impacto de sete dietas populares sobre os adultos portadores de diabetes tipo 2.

Tanto a variante mediterrânea como as de baixo carboidrato, de alta proteína e de baixo índice glicêmico reduziram o açúcar no sangue dos participantes. Porém a surpresa foi que a dieta mediterrânea acusou sucesso muito maior na redução do peso do que as de baixo carboidrato e de baixa gordura.

Marchesini aponta uma outra razão importante por que todos deveriam seguir a dieta mediterrânea: os recursos econômicos e ecológicos globais. "As dietas não mediterrâneas, ou seja, ricas em carne, não são mais sustentáveis em termos do impacto ambiental sobre o planeta."

Ele e sua equipe se empenham para promover o retorno ao modelo mediterrâneo. Pois, como ele enfatiza, a questão não é apenas o que se coloca na boca. Em sua clínica de doenças metabólicas e dietéticas em Bolonha, os pacientes não são mais enviados para casa com dietas para redução de peso.

"Oferecemos cursos educacionais e uma equipe de nutricionistas e clínicos. Temos especialistas em exercícios físicos, um psicólogo -- tudo o que pode ajudar as pessoas a mudar seu estilo de vida", descreve o professor.

E Marchesini também põe em prática aquilo que prega: come muitas leguminosas, frutas, legumes e verduras, e todos os dias vai para o trabalho de bicicleta -- faça chuva, faça sol.

Fonte: Deutsche Welle
Autoria: Dany Mitzman (av)
Edição: Alexandre Schossler